Homem Cristo, Filho
"Portugal foi dos últimos países da Europa a ter uma agência nacional de informação internacional. [...] Por outro lado, teve a sua sede em Paris a que terá sido, julgo, a primeira agência de informação fundada e financiada por portugueses - foi, se não estou em erro, a Fast, orgnanizada por Homem Cristo, Filho, na década de 20 e que se tornou possível graças aos capitais de Alberto de Monsaraz, o qual ao tempo não regressara ainda a Portugal do exílio que se seguira à derrota dos monárquicos em Monsanto.
A Fast enviava pelo correio, e em casos excepcionais telegraficamente, crónicas e notícias a jornais portugueses, brasileiros, espanhóis e hispano-americanos.
Não teve êxito como agência, e mais tarde transformou-se em casa de chá e sala de exposições".
Dutra Faria, jornalista, Director executivo da ANI, in "Agências de Informação", Informação / Cultura Popular/ Turismo, nº 1, Janeiro/Abril de 1970
"Em virtude da publicação de um artigo de crítica ao Ministro Sinel de Cordes, inserto no referido vespertino, eis de novo expulso de Portugal um dos mais garbosos, gentis e brilhantes jornalistas lusíadas da sua geração.Em Paris fundou e dirigiu a Chez Fast, casa editora e simultaneamente casa de chá. Nela se realizavam as reuniões dos Amis des Lettres Françaises, onde se agrupavam os maiores nomes do intelectualismo, da política, da ciência, da arte, da aristocracia, da finança, do exército franceses. Por 1926, foi Homem Cristo eleito Presidente da Associação da Imprensa Estrangeira de Paris"
Memória anónima, recolhida na Internet
Alberto de Monsaraz fixa-se em Paris, "onde Homem Cristo Filho teria nele o benévolo patrocinador para algumas das suas desencontradas e fantásticas iniciativas, entre as quais um curioso misto de elegante casa-de-chá, livraria, salão literário e agência de colaborações para a Imprensa do Brasil e hispano americana - "Chez Fast". E era ali, "Chez Fast", que os portugueses (homens de letras e jornalistas) que iam até Paris (ainda então no cabo do mundo...) tinham o ensejo de encontrar e conhecer figuras de relevo na literatura francesa do tempo, como Claude Farrère e a Rachilde.
Artigo de Dutra Faria no jornal "A Rua", de 23 de Fevereiro de 1978
"Aventureiro de várias pátrias, múltiplos talentos e extrema ousadia, Homem Cristo Filho tinha fundado em 1917, na cidade-luz, a Agência de Informação Fast, que colocou ao serviço do sidonismo na frente europeia. A Fast - primeira agência noticiosa portuguesa a nível internacional - fora criada com dinheiros do conde Alberto de Monsaraz, figura central da resistência monárquica à República e futuro secretário-geral do Movimento Nacional-Sindicalista, que vivia exilado em Paris. Sob a sua direcção, a agência encarregou-se inicialmente da propaganda oficial de quatro países: a Espanha do rei Afonso XII, o Chile do liberal-democrata Juan Luís Sanfuentes, o Peru do civilista José Pardo y Barreda e a China republicana, onde os presidentes duravam pouco.
"Durante o consulado sidonista, a Fast incorporou a direcção de Informação e Propaganda da República Portuguesa nos Países Amigos e Aliados, criada pelo próprio Sidónio Pais, que substituiu a revista "Portugal da Guerra", fundada por Norton de Matos no início do conflito mundial, a qual se editava em Paris. Homem Cristo Filho, director de ambas, fez chegar pelo correio aos jornais portugueses as notícias que mais interessavam ao Presidente-Rei. E aceitou cumprir paralelamente a missão de desacreditar o Presidente da República deposto, Bernardino Machado, que se encontrava exilado na capital francesa. O assassinato de Sidónio deitou entretanto o projecto abaixo, obrigando o jornalista panfletário a alterar o plano de vida. Quando Ferro o procura em Paris, explora já o espaço da agência como livraria, casa de chá e salão de exposições, com o nome de Chez Fast, aberto aos pintores portugueses radicados em Paris. É aí que expõe, por exemplo, Henrique Medina e que Mário Eloy causa frisson pela primeira vez.
"A Chez Fast acolhe nessa época com regularidade as reuniões dos Amis des Lettres Françaises, que juntam intelectuais, princesas do Leste, exilados russos, vedetas do teatro ligeiro, banqueiros especuladores, gigolos profissionais e generais golpistas retirados. Homem Cristo Filho, que fala e escreve em francês com a fluência de um parisiense culto e veste das boutiques da Rue Furstemberg, em Saint-Germain-des-Prés, é o anfitrião perfeito. O charme da pernagem e o espírito do lugar fazem Ferro vibrar de emoção e procurar sempre que pode o mestre para aprender novas lições. A submissão é tal que fica perturbado e em crise sempre que ele o repreende. Além da admiração por Sidónio, os dois homens têm em comum a apetência pela escrita e o fascínio pelas ditaduras".
"António Ferro, O Inventor do Salazarismo", Orlando Raimundo, D. Quixote, 2015, págs 96 e 97
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