domingo, 1 de novembro de 2015

Para uma História das Agências Noticiosas - Memórias de Luís Lupi, fundador da Lusitânia II


Em 1938, quando a II Guerra Mundial já se desenhava no horizonte, Luís Lupi é, além de correspondente da britânica Reuter em Portugal (desde 1928), ainda correspondente da norte-americana Associated Press (desde 1932). É como correspondente dessas agências noticiosas que cobre a Guerra Civil de Espanha (1936 - 1939).

Figura controversa, salazarista convicto, assume-se anti-nazi e continua a ver adiado o seu projecto de criar uma agência noticiosa portuguesa, "que permitesse aos portugueses, onde quer que estejam, serem imediatamente informados do que acontecia a outros portugueses - fossem esses acontecimentos felizes ou infaustos - para que a distância, pela informação, fosse vencida!", como ele escreve nas suas Memórias, Volume II (Lisboa, 1972).

Luís Lupi refere a Havas (precursora da francesa Agence France Press), que monopoliza o noticiário em Portugal continental; a Reuter, que domina nos territórios das então colónias portuguesas; a soviética TASS. E fala do seu projecto de fazer a Reuter abrir uma delegação no Brasil. De qualquer modo, é Lupi quem está por detrás, em 1938, da pimeira ligação noticiosa directa diária entre Portugal e o Brasil (via Rádio Marconi).

Anti-nazi, Lupi refere com preocupação a agência noticiosa alemã DNB (a DNB Nachrichten Büro, que no pós guerra daria lugar, em 1949, à DPA - Deutsche Presse-Agentur), "que há tempos se vem a introduzir na imprensa portuguesa, oferecendo grátis e nalguns casos pagando pelo seu noticiário, exerce, nos últimos tempos, um verdadeiro assalto à opinião pública nacional".

"A Reuter foi banida da imprensa metropolitana portuguesa: seria substituída pela Havas, mas esta acha-se tão abalada na sua influência informativa tal como a França a oferece ao mundo, nesta ocasião, um triste espectáculo de desagregação político-social", afirma Lupi.

Para contrabalançar o caudal de propaganda do Reich, o correspondente em Lisboa da Reuter e da Associated Press consegue que informação anglo-saxónica penetre no Diário de Lisboa e no Diário de Notícias. Com grande irritação de Berlim, Ribbentrop, embaixador alemão em Londres (e depois ministro dos Negócios Estrangeiros) queixa-se do jornalista português ao embaixador português, Armindo Monteiro (pai do escritor Luís de Sttau Monteiro).

Por último, deixamos aqui uma entrada de 1939 nas Memórias de Lupi. Nela, refere-se António Ferro, Director do Secretariado da Propaganda Nacional, "que tudo compra, e a questão é apenas o preço". Ferro quer pagar à Reuter para que a agência fale melhor de Portugal. Lupi acha a ideia inconcebível. As duas personagens nunca se deram bem e há quem veja nisso os entraves que Lupi teve para concretizar o seu projecto mais querido - a criação de uma agência noticiosa portuguesa.










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